Perturbações mentais: conhecer e distinguir

Atualizado a 27 agosto 2020

As perturbações mentais são condições de saúde que envolvem, de forma isolada ou combinada, alterações do pensamento, da emoção e do comportamento.

Traduzem-se em sintomas variados, que quando adquirem intensidade severa ou persistente e surgem aliados ao sofrimento e/ou disfunção nas atividades sociais, de trabalho e/ou familiares, podem ser diagnosticados como uma perturbação mental. Com base na intensidade, assume a categoria de leve ou de mais grave.

As perturbações mentais mais leves têm uma interferência menor no quotidiano do doente e manifestam-se sob a forma de depressões, como, por exemplo, perturbações depressivas persistentes (distimia), e perturbações de ansiedade, como, por exemplo, as fobias.

Por seu lado, as perturbações mentais mais graves, isto é, as que alteram significativamente a vida do doente, podem chegar a obrigar a cuidados hospitalares. São exemplos destas perturbações, a depressão major, a perturbação bipolar e a esquizofrenia.

Perturbações mentais mais comuns: ansiedade e depressão

As perturbações depressivas e de ansiedade são especialmente dominantes na população portuguesa.

Segundo dados do Primeiro Estudo de Prevalência de Perturbações Mentais em Adultos (Estudo Epidemiológico Nacional de Saúde Mental, 2013), excetuando as doenças psicóticas esquizofreniformes e delirantes, o valor da prevalência anual em Portugal foi de 22,9%, ou seja, o mais elevado entre os oito países da Europa que integraram o estudo (apenas superado pelos Estados Unidos da América, com 26,9%).

Deste total de 22,9%, as perturbações de ansiedade destacaram-se com 16,5%, seguidas das perturbações depressivas com 7,9%.

Mesmo sendo as perturbações de ansiedade mais elevadas do que as perturbações depressivas, de acordo com a Organização Mundial de Saúde, a depressão representa a primeira causa de incapacidade no trabalho, afetando a produtividade e o absentismo laboral. Neste mesmo sentido, o estudo IDEA (Impacto da Depressão no Mercado de Trabalho na Europa), datado de 2012, refere que um em cada 10 trabalhadores já faltou ao trabalho devido a depressão.

Perturbações de ansiedade

As perturbações de ansiedade incluem características de medo e de ansiedade excessiva bem como de comportamentos relacionados. Importa definir que medo é a resposta emocional a uma ameaça iminente real ou percebida, enquanto ansiedade é a antecipação de ameaça futura.

Obviamente, esses dois estados sobrepõem-se mas também se diferenciam, sendo o medo associado, com mais frequência, a períodos de excitabilidade autónoma, necessária para a luta ou fuga face a pensamentos de perigo imediato, e a ansiedade normalmente mais ligada à tensão muscular e à vigilância em preparação para perigo futuro, marcada por comportamentos de cautela ou evitamento. Como exemplo de perturbação de ansiedade, do tipo resposta ao medo, há a referir os ataques de pânico.

Estas perturbações diferem entre si consoante os tipos de situação, que podem induzir medo, ansiedade, comportamento de evitamento ou pensamentos catastróficos.

Perturbações depressivas

As perturbações depressivas são doenças disruptivas de desregulação do humor. Caracterizam-se pela presença de humor triste, vazio ou irritável acompanhado por alterações somáticas e cognitivas que afetam significativamente a capacidade de funcionamento do individuo nos diversos contextos da sua existência.

Incluem-se nesta categoria as perturbações depressivas major (depressão major), as perturbações depressivas persistentes (distimia), a perturbação disfórica pré-menstrual, a perturbação depressiva induzida por substâncias/medicamentos ou devido a outra condição médica, as perturbações depressivas especificadas e as não especificadas. Segundo o DSM-5 - Manual de Diagnóstico e Estatística das Perturbações Mentais (DSM-V, 2014), o que as diferencia são aspetos relativos à duração, e ao momento ou etiologia presumida.

Trata-se de uma doença complexa, multifatorial, que pode ser originada pela combinação de fatores biológicos (desequilíbrios químicos dos chamados neurotransmissores), genéticos, temperamentais, psicológicos e ambientais.

Impacto da saúde mental na saúde física

Os benefícios da atividade física na saúde mental são inegáveis. Mas a saúde mental também tem impacto no bem-estar físico.

Para esta afirmação, contribuiu um estudo da Universidade da Califórnia (Health Psychology, 2019) sobre a natureza e dimensão dos efeitos das perturbações mentais, como a ansiedade e a depressão, na saúde física, cuja conclusão aponta para o facto destas duas doenças poderem ser tão negativas para a saúde física quanto a obesidade ou o consumo de tabaco.

Também a Organização Mundial da Saúde sustenta que pessoas com transtornos mentais graves – depressão moderada a grave, transtorno bipolar, esquizofrenia e outros transtornos psicóticos – têm geralmente uma expectativa de vida 10 a 20 anos menor do que a população em geral. A maioria dessas mortes prematuras ocorre devido ao agravamento das condições físicas de saúde.

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Quando pedir ajuda?

Ao longo da vida, as pessoas são inevitavelmente afetadas por situações emocionais relevantes e muitas vezes é o corpo quem dá o sinal. Nem sempre é fácil interpretar estes avisos. São poucas as pessoas que têm consciência de que a causa dos seus sintomas podem ser emocionais.

Um transtorno emocional pode manifestar-se através de vários sintomas, nomeadamente físicos, como diarreia, transpiração, cansaço e problemas de pele. Há comportamentos e sintomas que interferem no quotidiano que também podem revelar perturbações mentais: sensação de não pertencer a nenhum lugar (não se sentir integrado na sociedade), desinteresse pelas coisas que se gostava de fazer, dificuldades de relacionamento, traumas, tristeza, angústia, medo, dúvida.

Quando o grau ou a duração do sofrimento emocional são sentidos como excessivos é importante recorrer a um profissional de saúde, de preferência com competência psicoterapêutica.

A quem pedir ajuda?

A Médis comparticipa consultas de psiquiatria na maioria dos seguros com cobertura de ambulatório e disponibiliza uma rede de descontos em consultas de psicologia presenciais e por videochamada.

É possível também encontrar ajuda junto do Serviço Nacional de Saúde – através dos Centros de Saúde ou das Unidades de Saúde Familiar – ou da linha Saúde 24 (808 24 24 24). Também se pode optar por consultar diretamente um Psicólogo ou um Psiquiatra.

Existem ainda associações que estão disponíveis para prestar apoio por via telefónica, inclusive de forma anónima.

SOS Voz Amiga - 213 544 545 ou 912 802 669
Vozes Amigas de Esperança de Portugal - 222 030 707
Telefone da Amizade - 228 323 535
Voz de Apoio - 225 506 070

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