
No episódio desta semana do podcast da Rádio Comercial “O Nosso Olhar para Ti”, o psiquiatra Daniel Sampaio e a jornalista Marta Amaral conversam sobre os desafios da adolescência, à boleia da série da Netflix que colocou todos os pais em alerta.
Uma conversa em que a jornalista e o psiquiatra abordam vários temas relacionados com esta importante fase da vida, para ajudar os jovens, pais e educadores a lidarem melhor com os desafios.
“Adolescência” e a Escola
Marta Amaral parte da série “Adolescência” para questionar o psiquiatra Daniel Sampaio sobre a forma como os pais devem lidar com os filhos que se fecham no quarto. O psiquiatra aponta “deviam ter batido mais à porta” e fomentado mais interações sociais. Daniel Sampaio sublinha que aqueles pais não são negligentes e elogia o facto de a série não apontar culpa a nenhum dos intervenientes da história relatada nesta série, que o médico considera importante para todos os pais.
Para o especialista, as escolas precisam de se modificar em relação à adolescência e aponta que “o grande problema das escolas é que não têm acompanhado esta evolução tão rápida da adolescência atual”.
Na relação pais-escola, o psiquiatra sublinha que é preciso haver contacto, mas sem excessos, para respeitar a identidade e as relações dos jovens no ambiente escolar. Marta Amaral sublinha a importância de reforçar o diálogo entre professores e alunos para uma vida escolar mais participativa, não só dos jovens como das famílias.
Procurar ajuda?
Alimentação, exercício físico e qualidade do sono são fatores chave para uma vida saudável.
O psiquiatra Daniel Sampaio aponta que no caso da alimentação deve ser saudável e os pais devem ter atenção a acentuada perda de peso ou obesidade. Sublinha, no entanto, que não deve haver “fundamentalismos” e uma refeição de “fast-food” de vez em quando não deve ser razão de conflito familiar.
Quanto ao sono é fundamental manter boas rotinas e garantir o descanso necessário em cada fase da adolescência. Daniel Sampaio aponta sinais de insónia, ansiedade e comentários depressivos persistentes como alertas de que o jovem pode precisar de ajuda profissional.
Telemóveis, Redes Sociais e Liberdade
De volta à série “Adolescência” da Netflix, o psiquiatra Daniel Sampaio considera que o problema da relação com a internet está bem retratado na história e defende que os psiquiatras têm que considerar o grande peso que a internet tem na vida dos adolescentes atualmente.
Os telemóveis são uma realidade que não se pode negar, mas é preciso estar vigilante. O risco é real e quando um jovem se fecha no quarto, com dispositivos ligados à internet, “é preciso bater à porta”. Mais uma vez é necessário encontrar o equilíbrio entre permitir liberdade e descoberta e garantir a segurança e bem estar das crianças.
Os pais devem garantir que os jovens mantém interações sociais “no mundo real” e que partilham os conteúdos que são explorados na internet.
Para Daniel Sampaio, as crianças até aos 12 anos não devem ter telemóveis e as redes sociais só deviam fazer parte da vida dos jovens depois dos 15 anos.
Amores, Desamores e Sexo
O psiquiatra Daniel Sampaio lembra que antes do primeiro namoro há “interações de proximidade física erotizadas” sem haver namoro, a que os jovens definem com expressões como “curtir” ou “safar”. O especialista recomenda que os pais não façam perguntas nesta fase, que habitualmente decorre por volta dos 17 anos. São de evitar perguntas como “já tens namorado?”
Mais tarde, quando os jovens apresentam namorados os pais devem evitar fazer comentários à pessoa que lhes é apresentada. Em caso de rutura amorosa, os pais não devem interferir e devem lembrar-se que na adolescência o amor é vivido de forma muito intensa e os sentimentos devem ser valorizados. Os pais devem ser um apoio que oferece compreensão e espaço para partilhar as dificuldades que estão a enfrentar.
Os pais devem também saber educar os filhos para não serem violentos no namoro. Um problema que tem crescido nos últimos anos e que é alimentado por conteúdos nocivos que se encontram na internet. Os pais devem enquadrar as situações e explicar que a violência não é aceitável.
No início da vida sexual dos jovens, os pais não devem precipitar-se e considerar que jovens que namoram já tiveram relações amorosas. O psiquiatra Daniel Sampaio recomenda que os adultos oiçam os jovens, para perceberem a sua posição sobre esse tema e que juntos definam como vão proceder na convivência, por exemplo, em casa um do outro.
Ainda sobre este tema, Daniel Sampaio considera-se muito preocupado com a chamada “masculinidade tóxica” e com as ideias que estão a ser difundidas na internet. Perante a gravidade dos conteúdos sobre este tema, fica o alerta para que a sociedade combata este fenómeno que significa um retrocesso perigoso.
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