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COVID-19: O cancro pode esperar?

Atualizado a 18 maio 2020

"Não podemos esperar seis meses para voltar à atividade normal.”

Maria José dorme todos os dias com o telefone pousado na mesa de cabeceira. Desde a última consulta de grupo, a 28 de fevereiro, que se mentalizava para a cirurgia. No início de março fez a consulta de anestesia e uma bateria de exames, para depois se submeter a uma operação complexa ao cancro da mama. Foi então decretado o estado de emergência e tudo ficou suspenso. Incluindo o seu telefone, que não voltou a tocar. “Será que quando entrar no bloco ainda vou estar igual?”

A pergunta é um desabafo, mas ilustra bem a ansiedade do momento. Atualmente há centenas de doentes oncológicos cujos tratamentos, exames, cirurgias foram adiados sem data devido à pandemia. “Deixámos de fazer consultas presenciais, reduzimos em 90% o número de exames. Parte do nosso espaço de enfermaria e cuidados intensivos ficou alocado a doentes covid-19”, afirma ao Expresso Rui Marinho, médico e presidente da Sociedade Portuguesa de Gastrenterologia, especialidade que trata um dos cancros com maior prevalência em Portugal: o do cólon.

“Estimamos que há 300 mil colonoscopias por ano, ou mais, porque é difícil ter os dados do Estado e do sistema privado, onde também se realizam muitos destes exames. São cerca de mil por dia”, contabiliza o médico, que classifica de “medicina de catástrofe” a luta travada diariamente no Serviço Nacional de Saúde (SNS) para tratar o vírus. “Isto tinha de ser feito para controlo da pandemia. As autoridades de saúde atuaram corretamente. A partir daqui temos o pós-guerra. Passou um mês e meio, a situação oncológica deve ser resolvida e planeada. Não podemos esperar seis meses para voltar à atividade normal.”

Apesar de saber que “existem situações mais graves”, Maria José desespera pelo telefonema do IPO. Mas também receia sair de casa e entrar num hospital, com medo de ficar infetada pelo novo coronavírus. É neste jogo de forças opostas que muitos dos doentes oncológicos vivem a possível normalidade. Confinados por serem grupo de risco, a aguardar na incerteza: “A informação que tenho é de que a partir do dia 4 começaram a chamar as pessoas. Mas foi a médica de família que me disse, não fui contactada”, diz Maria José, 59 anos.

Já convive com a doença desde 2019, altura em que começou a sentir dores no peito. Alguns diagnósticos inconclusivos foram adiando a notícia do cancro. Quando finalmente estava a resolver o problema, a pandemia trocou-lhe as voltas. “Arranjei outra doença, que foi uma depressão. Não está a ser fácil”, conta ao Expresso. “Sinto-me abandonada, ninguém tem culpa, imagino que estejam milhares de pessoas sozinhas. Receio que o meu tumor tenha evoluído.”

Janela para o rio
Há duas janelas no quarto de Artur Miranda. Quase um privilégio para quem está confinado e isolado da família. Através do vidro consegue chegar à varanda, de onde vê uma das margens do Lima, o monte de Santa Luzia, os arcos da ponte e a Sagrada Família. Na “janela do computador” vê os amigos, que o ajudam a combater a solidão. Rececionista de uma oficina mecânica, considerado doente de risco, deixou os tratamentos ao cancro para não se expor ao vírus. A decisão foi tomada após ter recebido uma mensagem do seu médico urologista a avisá-lo de que seria “mais seguro”.

Marcelo Rebelo de Sousa ainda não tinha decretado o estado de emergência quando Artur se resignou às quatro paredes do quarto. “Na última consulta presencial, em fevereiro, a médica deu­ -me as segundas vias para a TAC”, conta ao Expresso por telefone, desde Viana do Castelo, onde vive. Seria suposto reavaliar a doença após os exames, um cancro no rim que o obrigara a uma refretomia radical (cirurgia para remoção total do rim) no final de 2018. Longe de ter ficado descansado - até porque um dos anteriores exames apontava para uma progressão da doença -, está em confinamento há mais de 50 dias.

Artur Miranda é mais um entre milhares de doentes de cancro que ficaram suspensos pela pandemia. Após a recomendação da Direção-Geral da Saúde para hospitais e serviços de oncologia organizarem um plano de contingência capaz de reduzir a força de trabalho em cerca de 10% a 15%, vários atos médicos, consultas e cirurgias foram adiados sem data. Pensa voltar ao hospital “em junho”, mas sem garantias. “Espero conseguir fazer a TAC até lá”, diz, pouco seguro das probabilidades. “Ainda hoje recebi uma mensagem do hospital de Braga a cancelar a consulta de urologia, marcada para dia 7 de maio.”

O SMS, de caráter genérico, dizia assim: “Salvo comunicação em contrário, a sua consulta e/ou exame estão cancelados. Será posteriormente contactado pelo hospital de Braga.” Ao Expresso, Ana Raimundo, presidente da Sociedade Portuguesa de Oncologia, revela temer o impacto na cura destes doentes. “Estou preocupada com as curvas de sobrevivência daqui a uns anos. Vamos começar a fazer uma recolha de dados e análise no congresso de oncologia. O impacto de tudo isto iremos começar a notar daqui a quatro ou cinco anos. Não só em Portugal, como no resto do mundo”, afirma.

“Havia alguma incerteza quanto à pressão que o SNS ia ter devido à covid-19. A capacidade de resposta foi influenciada por isso, pela reorganização dos serviços. Muitos dos doentes têm também receio de virem às consultas”, afirma a médica, garantindo que todos os tratamentos de dia foram mantidos, assim como os que já tinham sido iniciados. “Com cuidados redobrados, agendamentos mais espaçados, uso de máscaras desde o início, contactos no dia anterior para fazer questionário sobre febre e outros sintomas.” Outros métodos também avançaram: as consultas por videoconferência e a telemedicina.

Mas o tempo é um fator chave na luta dos doentes oncológicos, sob pena de caírem as taxas de cura e haver um aumento de complicações resultantes de tratamentos interrompidos. Até porque existem cancros cujos sintomas se revelam em fases já avançadas, sendo que o rastreio é essencial. Teresa, 54 anos, luta contra um cancro da mama há dois anos. “Fiz tudo, quimioterapia, radioterapia, e agora estou na vigilância dos quatro meses”, conta ao Expresso a relações públicas, que passou a fazer as suas consultas por telefone no início da pandemia.

“Consegui que o meu filho me fosse buscar a medicação para seis meses, mas hoje voltei ao hospital para fazer análises de marcadores. Toda equipada, mas cheia de medo”, conta, revelando ter encontrado “uma guerreira” na sala de espera do Hospital de São Francisco Xavier que lhe perguntou se ia “fazer o teste”. Teresa é autora de um blogue sobre o cancro da mama e a pandemia trouxe-lhe novos seguidores com muitas dúvidas. “Pessoas que estavam agora a começar os tratamentos contactam-me para saber o que as espera, se vão ter dores ou efeitos secundários da medicação,” Também há quem queira saber se a dor que apareceu estava entre os seus sintomas. “Aconselho sempre a irem ao hospital. Mas nesta fase as pessoas recusam-se a sair de casa, porque têm medo do vírus.”

Serviços alternativos

DGS
Foram várias as recomendações das autoridades de saúde para os doentes oncológicos. Além de terem sido criados circuitos alternativos dentro dos hospitais, a reorganização dos serviços, definiu a DGS, “deve permitir que os doentes se desloquem menos às unidades de saúde”. A procura nas urgências caiu entre 40% a 50%.

Consultas remotas
Durante a pandemia, centenas de doentes oncológicos foram acompanhados através de consultas por videoconferência. Os contactos passaram a ser feitos também por telefone e nas redes sociais. A Sociedade Portuguesa de Oncologia (SPO) recomendou o adiamento das visitas de rotina que fossem adiáveis e apostou nas consultas telefónicas, sobretudo com os mais idosos.

Testes
Os doentes oncológicos em tratamento ativo (cirurgia, quimioterapia, radioterapia) são sistematicamente testados antes de admissão ou internamento. Foram detetados vários casos de covid-19 em doentes oncológicos que estavam assintomáticos para o vírus. Nestes casos, a quimioterapia fica suspensa.

Diagnósticos
É a grande incógnita deixada pela covid-19. Os doentes que ficam por diagnosticar em virtude de uma redução significativa dos rastreios e exames endoscópicos poderão fazer subir as estatísticas do cancro a médio prazo. A SPO estima uma redução de 80% nos diagnósticos de cancro.

Tenho Cancro. E depois? é um projeto editorial da SIC Notícias com o apoio da Médis.

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