Pedro Torres, médico dermatologista
"Recentemente observei uma doente idosa, algarvia, com dificuldades económicas, que andou a 'passear' um melanoma maligno óbvio da perna durante três anos, entre várias consultas, marcações e desmarcações e promessas vãs de teledermatologia", conta Pedro Torres. "Pensei que no século XXI, em Portugal, isso já não fosse possível."
"As assimetrias demográficas entre litoral e interior também pesam, com populações mais envelhecidas no interior e portanto de maior risco oncológico", acrescenta, sublinhando que "a desintegração ou encerramento de alguns centros dermatológicos públicos de referência, como os do Hospital de Faro, Curry Cabral, Desterro, Pulido Valente ou Centro de Dermatologia Médico-Cirúrgico de Lisboa, vieram agravar a situação assistencial e de formação de novos especialistas".
Pedro Torres nota que "a sobrecarga dos serviços e institutos sobreviventes é assinalável, com risco de desmotivação dos seus profissionais", levando muitos deles a "optar pela atividade privada, mais atrativa pela sua componente económica e de flexibilidade de horário".
No futuro, prevê, as maiores dificuldades "vão consistir em implementar políticas de saúde pública de prevenção primária e secundária do cancro de pele, formação dos médicos de Medicina geral e familiar nesta área com rastreios periódicos aos seus doentes e criação de vias verdes de acesso a consultas de dermatologia para diagnóstico e tratamento de lesões suspeitas".
A "sangria" de especialistas "a que se está a assistir no Serviço Nacional de Saúde", poderá ser invertida, na sua opinião, com "a criação de carreiras públicas estáveis para os profissionais de saúde, que permitam também formação e investigação".
Para o médico dermatologista, "os hospitais privados têm desenvolvido grande capacidade de resposta, adequada sobretudo para os doentes com seguros de saúde, que grande parte da população não possui”, diz, considerando que “o convívio concorrencial entre os sistemas, público e privado, é benéfico para os dois".
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