2014.12.29

A Web rouba-nos a Memória

​Um estudo da Universidade de Columbia, em Nova Iorque, publicado na revista Science, concluiu que a utilização regular da Internet está a alterar o processo como a nossa mente arquiva as memórias.

Hoje em dia, deixaram de ser necessários grandes esforços de memória, pois “alguém” faz esse trabalho por nós. Para além do advento das máquinas de calcular inteligentes, que reduziram significativamente o esforço na resolução de problemas matemáticos, a Web está a afetar significativamente as memórias dos seres humanos, que delegam esse esforço de memória nos motores de busca, o que acaba por ter um grande impacto em termos culturais, tanto mais que não podemos ignorar que alguém afirmou uma vez que “cultura é aquilo que fica depois de termos esquecido tudo o que aprendemos”. Um estudo realizado pela Universidade de Columbia, em Nova Iorque, e publicado na revista Science, faz o retrato de um mundo afetado por amnésia, sustentado por uma memória coletiva e digital. 

Segundo Betsy Sparrow, uma das autoras do estudo, a Web tornou-se numa espécie de “memória externa”, cómoda, utilíssima, capaz de responder por nós. 

O Estudo  

Uma equipa de investigadores realizou vários testes a um grupo de jovens para verificar como é que a sua capacidade de memórias e de aprendizagem se adaptaram a uma utilização regular da Web. Num primeiro teste, foram reunidos 46 alunos da Universidade de Harvard, a quem foram colocadas as mais diversas perguntas sobre temas aleatórios, tendo sido verificado que quantas mais palavras relacionadas com a Internet (Google, Yahoo, etc.) eram utilizadas, mais rápidas eram as respostas, em contraponto com respostas menos rápidas e seguras a perguntas onde o vocabulário utilizado era menos comum à Web. Na segunda e na terceira experiências, os investigadores sujeitaram os voluntários a alguns inquéritos sobre os quais vieram a ser mais tarde interrogados, para aquilatar a sua capacidade de memória. Durante os testes, os jovens foram autorizados a tomar apontamentos num PC (off-line) e se a alguns foi dito que essa informação seria arquivada, a outros foi vedada essa possibilidade. Como se esperava, os dois grupos reagiram de forma diferente e aqueles que estavam seguros de que informação seria “salva”, esqueceram automaticamente a maioria dessa mesma informação, enquanto que os restantes lograram memorizar uma boa parte dos dados.

Novo Paradigma 

No estudo publicado na revista Science, os investigadores concluem que a Web conseguiu revolucionar até a forma como a nossa mente organiza e arquiva a informação. O recurso aos motores de busca, que passaram a fazer parte do nosso quotidiano, está a criar novos paradigmas na forma de memorizar o conhecimento. O Ciberespaço assumiu o espaço da memória real, ao mesmo tempo que subverteu a ordenação da informação por ordem de importância. O filme Casablanca é um exemplo desta realidade. Em vez de ser recordado o realizador (Michael Curtiz), é muito provável que fique impresso na memória o nome do site consultado para se saber mais sobre a película. Será inútil afirmar que seria muito mais importante recordar o nome de Michael Curtiz, mas tudo é relativo. Raciocinamos através de palavras-chave, mas Google e companhia estão a alterar a forma como o nosso cérebro guarda a informação e, no fim de contas, Michael Curtiz é “apenas” o diretor de um dos filmes que faz parte da história do cinema. E de que serve recordá-lo? O Google tem essa informação disponível...

Fonte: Revista Mais Médis nº4, Edição: Cofina Media
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