2016.09.23

​Atualmente, estima-se que cerca de 20% das crianças em idade escolar apresentem algum tipo de défice de função visual (ou seja, uma em cada cinco).
Os erros refrativos são as doenças dos olhos que mais afetam as crianças – miopia, hipermetropia e astigmatismo. Segue-se o estrabismo.
A deteção precoce destas situações e seu correto tratamento, tem um papel preponderante na evicção da baixa visão.
Quanto mais cedo for detetada a deficiência, maior é a probabilidade de resolução da baixa visão. O olho humano atinge o desenvolvimento funcional por volta dos 10 anos de idade.

Daqui se depreende a importância dos rastreios em idade útil - idade em que se consegue recuperar função.
Os rastreios deveriam ser feitos, pelo menos, por volta dos 3-4 anos. Idealmente, deveria ser feito o primeiro rastreio entre os 12 e os 18 meses, altura em que o oftalmologista tem possibilidade de detetar e corrigir alguns fatores ambliogénicos (causadores de baixa visão). O protocolo de avaliação está adaptado às diferentes idades, os pontos a objetivar variam de forma a obter o máximo de informação possível na idade em questão.
Aos 3 anos, ou mesmo antes, consegue-se uma boa colaboração da criança na avaliação da acuidade visual e visualização dos meios óticos com bastante pormenor. É importante estabelecer, com a criança, uma relação de empatia, num ambiente calmo, na presença dos pais.

Os sintomas de défice visual nem sempre estão presentes. Há crianças que não apresentam qualquer queixa ou sinal, principalmente aquelas em que só um dos olhos é que vê mal, por pequenos estrabismos ou por anisometropia (diferença de graduação entre os dois olhos).

Eis alguns sinais e sintomas que indiciam a necessidade de uma observação por oftalmologista:
- olhos vermelhos
- lacrimejo
- prurido ocular
- piscar muito os olhos
- franzir os olhos e a testa
- fotofobia (sensibilidade à luz)
- dores de cabeça
- referir que vê desfocado, mal definido ou a dobrar
- perda de interesse em atividades em que se exija esforço visual (ler, desenhar, colorir)
- posicionamento estranho a ler
- aproximar muito ou afastar os objetos ou o que se está a ler
- fechar ou tapar os olhos com alguma frequência
- saltar palavras ou mesmo linhas na leitura (corrigido se acompanhar a leitura com o dedo) 
- confundir letras
- copiar texto para o caderno com muitos erros
- sem interesse na leitura
- distrair-se facilmente e distrair os colegas por falta de concentração na aula
- dificuldade em aprender

A falta de interesse e a dificuldade de aprendizagem, por vezes erradamente entendida como incapacidade “natural” do aluno para a aprendizagem (preguiça ou pouca vontade de estudar), podem ter como fator desencadeante um problema de visão.
A dificuldade em ver pode prejudicar o desenvolvimento, a adaptação e mesmo o relacionamento com os outros, em ambiente escolar.

A utilização de computadores e outros dispositivos eletrónicos e sua influência na visão é uma questão, frequentemente, levantada pelos pais na consulta. Cientificamente não está provado que o seu uso esteja na origem ou no agravamento da miopia. Contudo, o exercício prolongado da visão de perto, como a leitura e/ou uso de computador, durante várias horas, pode estar relacionado com o despoletar de uma miopia, como fator ambiental. O próprio cansaço visual que advém desse comportamento não deve ser menosprezado.
A utilização dos mesmos deve, por isso, ser moderada e alternada com intervalos para descanso ocular.

As condições em que a leitura é feita são alvo, também, de algumas recomendações: - iluminação correta do local de leitura, a altura da cadeira e da secretária devem estar adequadas ao ato, evitar maus posicionamentos (como ler de deitado de barriga para baixo – a distância de leitura deve ser de 30 a 40 cm). Quando estamos a fixar um monitor de computador, os olhos devem estar a um nível superior (10 a 20) do centro daquele. Se estamos a ver televisão, a distância deve ser cinco vezes superior à largura do écran. A posição dos aparelhos deve ser escolhida de forma a evitar reflexos (focos de luz, janelas, etc.). As pausas para descanso visual são muito importantes.

É de valorizar o diálogo professores /pais e uma observação perspicaz pelos educadores, para que se minimizem os danos visuais.

Dra. Sandra Barrão
Assistente Hospitalar Graduada de Oftalmologia
Consultora de Oftalmologia da Direção Clínica da Médis


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