De pequenino… se cuida da visão

​Saiba porque deve levar o seu filho a uma consulta de oftalmologia e quais os sinais a que deve estar atento para prevenir problemas de visão.

Sabia que a primeira consulta de oftalmologia deve realizar-se aos 3 anos de idade? Descubra por que razão deve levar o seu filho ao médico. Detetar problemas de visão que passam despercebidos aos pais é o objetivo desta consulta, que permite corrigir atempadamente problemas como os defeitos refrativos – miopia, astigmatismo, hipermetropia, estrabismo… - as dificuldades mais comuns, segundo a Sociedade Portuguesa de Oftalmologia.


O que veem os recém-nascidos?

Para compreender a importância da saúde visual e da realização da primeira consulta oftalmológica na idade certa, o melhor é começar pelo princípio. E a pergunta é: “O que veem os recém-nascidos?”. À nascença, o aparelho visual está completamente formado, na sua estrutura, mas ainda não está plenamente desenvolvido. O que isto significa é que os bebés têm a capacidade para ver, mas ainda não aprenderam a fazê-lo. O cérebro precisa de ir recebendo estímulos visuais, processo que se pode estender até aos 6 ou 7 anos. No início, só identificam padrões e contrastes, mas não cores nem formas. E só conseguem ver o que está a 30 ou 40 centímetros de distância: daí que o rosto da mãe seja o que melhor conhecem. Com um ou dois meses, aprendem a focar e começam a ser capazes de acompanhar o movimento dos objetos. Pelos quatro meses, surge a noção de profundidade e, com ela, a tentativa de agarrar objetos. Entre os cinco e os oito meses, ganham a noção das cores, os olhos aproximam-se daquela que será a sua cor definitiva e a visão adquire uma clareza já muito próxima da dos adultos. Mas o desenvolvimento prolonga-se ainda pelos anos seguintes.

A primeira consulta

Neste processo de amadurecimento visual, é importante que os pais estejam atentos a eventuais sinais de que algo não está a correr bem. Que sinais são esses? Logo a partir do nascimento, podem verificar se o olho (a estrutura externa) tem uma aparência normal ou se apresenta alguma alteração. Depois do primeiro mês, há que reparar se o bebé consegue fixar um rosto que esteja muito próximo. Depois, importa perceber se consegue seguir com o olhar uma pessoa ou um objeto que esteja próximo.

O que está aqui em causa é detetar o mais precocemente problemas de visão e, em consequência, intervir o mais cedo possível. Daí que, mesmo sem qualquer suspeita, a primeira consulta de oftalmologia deva acontecer aos três anos, independentemente de, nas consultas regulares de pediatra, a visão ser um dos parâmetros avaliados. Nesta idade, a criança não se queixa nem dá indícios de que vê mal – daí a utilidade do rastreio.

Esta primeira consulta é antecipada se houver risco de desenvolvimento de problemas oculares, nomeadamente quando há antecedentes familiares, suspeita clínica, prematuridade ou doenças subjacentes do foro neurológico, metabólico ou genético.

Não havendo risco prévio e se não for identificado qualquer problema na primeira consulta, a criança deve voltar ao oftalmologista pelos cinco, seis anos, coincidindo com a entrada na escola. Mais uma vez, com o intuito de identificar precocemente eventuais problemas e corrigi-los também precocemente, evitando que se agravem.

Que sinais procurar?

É entre o pré-escolar e o primeiro ciclo do ensino básico que são detetadas muitas das alterações do foro oftalmológico, por serem momentos em que a visão é posta à prova com mais intensidade. Afinal, a leitura e a escrita exigem um esforço acrescido de atenção e concentração superior. Há, pois, que estar atento a sinais que possam indicar que a criança vê mal:

• Dificuldade na leitura;
• Copiar do quadro com erros;
• Semicerrar os olhos para ver;
• Tapar um dos olhos;
• Esfregar os olhos;
• Desinteresse por tarefas que exijam esforço visual, como ler, escrever, ver televisão;
• Olhos vermelhos;
• Lacrimejar;
• Dores de cabeça.

De acordo com a Sociedade Portuguesa de Oftalmologia, 20% das crianças têm problemas de visão que interferem com o rendimento escolar.

“Olho preguiçoso” e não só

Quantas vezes não nos cruzámos já com uma criança com um dos olhos tapados? É consequência da ambliopia, mais conhecida como “olho preguiçoso” e uma das situações mais comuns em idade escolar. O que acontece é que um dos olhos apresenta uma visão inferior ao normal, apesar de, aparentemente, não ter qualquer alteração. A “culpa” é do cérebro que favorece um dos olhos, bloqueando as imagens enviadas pelo outro, tornando-o “preguiçoso”. Se for detetada a tempo, a ambliopia corrige-se com a oclusão do olho “bom”, de modo a forçar o outro, mantendo-se esta abordagem até que os dois olhos tenham a mesma visão.

Com uma relação muito próxima com a ambliopia, o estrabismo é outro problema comum nas crianças. Chamam-lhe “olho torto” porque o olho que vê pior tem tendência a entortar para dentro, isto é, a convergir. O cérebro acaba por bloquear a imagem captada por esse olho, que, por falta de estímulo, fica “preguiçoso”.

Também no astigmatismo existe um desalinhamento ocular, com a qualidade da visão a diferir de olho para olho. Mas, quase sempre, devido a um defeito da córnea, que, por apresentar uma curvatura desigual, distorce a visão. As imagens parecem turvas e desfocadas, quer ao perto, quer ao longe.

E, a propósito de distância, dois dos problemas de visão mais associados a um mau aproveitamento escolar são a hipermetropia e a miopia. O primeiro consiste na dificuldade em ver ao perto, com tarefas como a leitura a provocarem fadiga e dores de cabeça. O segundo consiste na dificuldade em ver ao longe, obrigando a um cerrar frequente dos olhos para diminuir o campo de visão e aumentar a acuidade. Ambos se corrigem com o uso de óculos.

Qualquer um destes problemas é detetável nos exames oftalmológicos – daí a importância da primeira consulta antes da entrada em idade escolar. Afinal, é de pequenino que se cuida da visão.


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