Que retrato faz da saúde cardiovascular em Portugal?
A importância da doença cardiovascular é enorme. Em Portugal, só no último ano, de um total de cerca de 110 000 óbitos, ocorreram 35 000 mortes por doença cardiovascular. A tendência dos últimos anos mostra uma ligeira redução da mortalidade devida a AVC e enfartes do miocárdio e um aumento dos casos de insuficiência cardíaca e de fibrilhação auricular. As doenças cardiovasculares são as patologias dominantes, sendo responsáveis por mais de um terço de toda a mortalidade da população portuguesa.
Na sua opinião, que indicadores são mais preocupantes?
Um dos maiores problemas é o excessivo consumo de sal, muito superior ao consumo médio europeu. Pensa-se que este erro alimentar seja, em grande parte, responsável pelo elevado número de AVC. Podemos dizer que Portugal é o campeão europeu de consumo de sal e é o país com mais acidentes vasculares cerebrais que, saliente-se, constituem a principal causa de morte e incapacidade da nossa população.
Por outro lado, nos últimos anos surgiu uma nova ameaça, sobretudo para os jovens: o abandono progressivo da dieta mediterrânica, substituída pela "fastfood", rica em calorias, gorduras saturadas, sal e açúcares, e pobre em fibra vegetal e micronutrientes essenciais. Não admira que estudos apontem as crianças portuguesas como as segundas da Europa com mais excesso de peso e obesidade. Este drama da obesidade infantil é também explicado por estudos que mostram que a população portuguesa é a mais sedentária da Europa. São bem conhecidas as vantagens da atividade física regular, que pode passar por uma simples marcha diária, em passo rápido, e duração de cerca de meia hora.
Muitas pessoas só adotam hábitos saudáveis depois de serem surpreendidas por um problema grave. O que lhes diria?
Metade dos enfartes do miocárdio e de morte súbita ocorre sem previamente ter dado sintomas premonitórios. Por outras palavras, nestes casos a primeira manifestação de doença surge sem qualquer aviso e pode acompanhar-se de uma paragem cardíaca que causa a morte. Ao fim de alguns minutos de paragem cardíaca a morte cerebral torna-se irreversível. É por isso necessário fazer prevenção para uma doença que mata tanto e cuja vacina é a adoção de um estilo de vida saudável e o controlo dos fatores de risco.
Qual o primeiro passo para melhorar a saúde do nosso coração?
Começaria pela realização de um check-up, que pode evitar males maiores (por exemplo, permitindo encaminhar o paciente para exames mais específicos caso se detete alguma irregularidade). É uma medida inteligente que constitui um fator positivo para a prevenção da doença e a sua deteção precoce. Salva certamente muitas vidas e evita muito sofrimento.
É essencial, adotar um estilo de vida saudável (alimentação mediterrânica, atividade física regular e não fumar) e, em caso de necessidade, assegurar o controlo dos fatores de risco cardiovasculares, nomeadamente a hipertensão arterial, o colesterol e a diabetes, com a ajuda do médico.
Este ano, a Fundação dedica o mês do coração ao desporto. Porquê?
Tivemos em atenção que os portugueses são o povo da União Europeia que surge em todos os inquéritos como aquele que menos atividade física pratica, talvez porque ainda não assumiu a forte relação que existe entre o exercício, a saúde e o bem-estar. Além disso, a Fundação realizou um estudo em 2017 sobre a atividade física que a nossa população pratica. Pudemos verificar que, apesar de todas as campanhas de sensibilização para a importância da atividade física, dois terços dos Portugueses são sedentários.
Como motivaria alguém que não pratica exercício físico?
Começaria por esclarecer o individuo sobre as vantagens da atividade física. Em seguida levá-lo-ia a questionar-se sobre os seguintes pontos:
- Tem hipertensão arterial?
- Tem excesso de peso ou é obeso?
- O seu colesterol está elevado?
- Não faz exercício físico regularmente?
- Alguém na família próxima teve um acidente cardiovascular relativamente jovem?
Se respondeu SIM a qualquer destas perguntas, significa que pode estar em maior risco de sofrer um acidente cardiovascular.